O assunto de hoje é: doença renal crônica, humanidade.
Para me ajudar nessa missão de explicar para vocês o que é essa doença e o quão perigosa ela é para os gatos, eu convidei a minha veterinária, especializada em felinos, para responder algumas perguntinhas, Dra. Estela Pazos!
Essa doença pode atingir de 4 a cada 10 gatos acima dos 8 anos de idade, ou seja, infelizmente ela é muito comum. A doença renal crônica se caracteriza por lesões em 75% dos néfrons que são conhecidos por serem uma espécie de mini-filtros dos rins felinos.
Uma das razões que nos leva a ser mais tendenciosos a ter essa doença do que os cães, é que nós temos 200 mil néfrons, enquanto os cães têm 400 mil. Ou seja, uma diferença bem grande.
Mas indo direto ao assunto, fiz algumas perguntas para a Dra. Estela que vão te ajudar a entender melhor os mistérios dessa doença.
Estela, como os humanos identificam que os gatos estão com uma doença renal crônica?
Normalmente quando os humanos descobrem que o gato está manifestando uma crise, a doença já está bem avançada. Geralmente os sinais variam um pouco, mas é comum que o gato fique com o hálito muito forte. Existem casos de gatos que têm úlceras na língua, o que gera dificuldade para comer e perda de peso. O mais comum de todos os sintomas é: o gato beber muita água e fazer muito xixi.
Muitos humanos associam essa doença com a falta de ingestão de água, mas ninguém imagina que um dos sintomas é o excesso dela também!
Na verdade, esse excesso de água acaba se tornando compensatório da doença, ou seja, acaba gerando muita sede e aí, consequentemente o gato procura mais água. Inclusive, é comum que os humanos não percebam essa ingestão excessiva de água, mas sim o grande volume de xixi.
Estela, qual o exame que identifica a doença?
O exame que fornece o diagnóstico é geralmente exame de sangue, ureia e creatinina.
Esse exame também avalia quando o gato já perdeu 75% da função renal. Hoje, temos também outro exame, que é o SDMA que avalia quando o gato ainda está com uma perda de 40 a 45% da função renal, ou seja, dá uma avaliação um pouco mais precoce, o que ajuda bastante no tratamento.
O que leva os gatos a terem essa doença, além da falta de água? Quais são os cuidados que os humanos podem ter para evitar?
Bom, antes de tudo vou falar da fisiologia dos gatos antes de serem domesticados.
Na selva, os gatos se alimentavam de caça, certo? Os felinos são animais de origem do deserto, ou seja, têm pouca percepção de sede porque aprenderam a adquirir a água das presas que caçavam, até porque sabemos que a carne têm entre 70% e 75% de água e os gatos aprenderam a concentrar a urina também, justamente porque não tinham água sempre a disposição de onde vieram. E essa é uma características que se manifesta nos felinos até hoje!
Quando nós, humanos, trouxemos os gatos para dentro de casa, passamos a servir um alimento seco. Mesmo que os gatos costumam beber água logo após ingerir esse alimento, vale lembrar que essa ingestão de água não é o suficiente para hidratá-los. Existem até estudos que falam que gatos que só consomem ração seca estão cronicamente desidratados, não é uma desidratação a ponto de ficarem doentes mas é uma sub desidratação.
A ração seca tem entre 8% a 10% de água enquanto a caça costuma ter de 70% a 80%, é uma diferença muito grande.
Por isso eu sou a favor da liberação do sachê todo dia!
Sim, Chico! É muito comum encontrar humanos que só alimentam seus gatos com comida úmida, justamente para tentar compensar e lembrar um pouco da alimentação selvagem de vocês.
Gatos que consomem só alimento úmido, dificilmente procuram água para beber, pois a água do alimento já os ajuda a se manterem hidratados.
E depois que os humanos identificam a doença, como funciona o tratamento?
Primeiro devemos identificar o grau que a doença se encontra, então, pra isso a gente precisa hidratar o gato, pra conseguir entender em que nível isso se encontra.
A doença renal é dividida em 4 fases. O gato que está na fase 1 e 2 (que é aquela em que a gente descobre de forma precoce) segue com vida normal sem restrição de proteína.
Agora o gato que está entre a fase 3 e 4 já tem que ter mais atenção, porque a proteína libera compostos nitrogenados que viram amônia e se convertem em ureia e isso piora a náusea, ou seja, vai deixar o gato mais enjoado e ainda mais seletivo na hora de comer, o que consequentemente piora a doença. Nesse momento talvez seja necessária a restrição de proteína.
No caso de restrição de proteína, como fica a alimentação do gato?
Em casos como esse, é recomendado comer as alimentações próprias para gatos com problemas renais, que possuem baixo teor de proteína e ajudam a manter a doença estabilizada sem avanços.
Pra finalizar, como que os humanos podem ajudar os gatos a prevenir essa doença que é tão comum?
Primeiro ponto é: alimentação, principalmente alimentação úmida. Tentar oferecer para o gato pelo menos duas vezes ao dia, o que já diminui bastante a quantidade do alimento seco.
Não deixar o gato ficar obeso, incentivar atividades físicas, manter os dentes sempre limpos, não deixar acumular aquele tártaro que também impacta na doença e oferecer muita água, espalhando diversos bebedouros pela casa.
Dra. Estela, muitíssimo obrigado pela participação e por tirar todas as nossas dúvidas a respeito dessa doença tão comum.
Humanidade, espero que essa entrevista tenha sido útil pra vocês.
Não se esqueça de disponibilizar água e sachê pros gatos da sua casa e ficar de olho pra ver se está tudo normal.
Ronrons,
Chico
CEO – Cansei de ser gato